Agrônomo junta R$ 1,7 mil em moedas e compra televisão, em SP

Ele trocou R$ 300 em um comércio e usou o restante para fazer a compra.
Com troco em falta, gerente e caixa contam que houve aplausos na loja.

Karina TrevizanDo G1, em São Paulo
Murilo usou R$ 1,4 mil das moedas que economizou para inteirar o valor de uma televisão (Foto: Karina Trevizan/G1)Murilo usou R$ 1,4 mil das moedas que economizou para inteirar o valor de uma televisão (Foto: Karina Trevizan/G1)
Um cliente chega ao caixa da loja para fazer o pagamento de uma televisão de 46 polegadas que havia acabado de escolher e avisa a funcionária: “Moça, acho que você vai querer me matar”. Em seguida, acomoda sobre o balcão sacos com R$ 1,4 mil em moedas. Em vez do esperado ataque de fúria, a vendedora e a colega que estava ao lado começaram a aplaudir.
O comprador foi o engenheiro agrônomo Murilo Kfouri, que é de São Paulo e tem 27 anos. Ele teve a ideia de começar a juntar moedas em 2005, quando conseguiu reunir R$ 800. Depois de gastar o primeiro montante, decidiu começar a juntar novamente para atingir um valor maior.

Terminou 2014 com R$ 1,7 mil em moedas, dos quais R$ 300 eram de R$ 0,05 e R$ 0,10 e foram trocados por notas em uma lanchonete. Os outros R$ 1,4 mil em moedas maiores foram acrescidos de cerca de R$ 800 em notas para completar o valor da compra da televisão. “Quando eu fui trocar o pessoal começou a bater palma pra mim na loja, falaram ‘parabéns’. Achei que iam me matar, mas agradeceram. Falaram que estavam precisando”, conta Murilo.
Izabel, Josefa e Diogo, das Casas Bahia, contam que o pagamento em moedas foi literalmente aplaudido (Foto: Karina Trevizan/G1)Izabel, Josefa e Diogo, das Casas Bahia, contam
que o pagamento em moedas foi literalmente
aplaudido (Foto: Karina Trevizan/G1)
A operadora de caixa que recebeu o pagamento foi Izabel Garcia Mendes. “A gente agradeceu, falou que foi um presente de Ano Novo porque estávamos zeradas de troco. Se tivesse uma vez por semana um cliente desse seria maravilhoso”, diz a atendente, que precisou de cerca de 20 minutos para contar todas as moedas com ajuda da colega do caixa.

O gerente, Diogo Mendes da Silva, diz que, mesmo os produtos vendidos na loja sendo de valores maiores, sempre há necessidade de moedas para troco. “No pagamento de carnê, o cliente pagando antecipado ou adiantado tem um desconto ou acréscimo. Isso quebra o valor”, diz ele, explicando que o perfil de clientes da rede varejista é mais adepto ao pagamento em cartão ou dinheiro vivo, deixando cheques em segundo plano.
Estávamos zeradas de troco. Se tivesse uma vez por semana um cliente desse seria maravilhoso"
Izabel Mendes, operadora de caixa
Apesar de inusitada, a compra da TV em moedas não foi a primeira situação do tipo vista por Diogo, que trabalha há 10 anos na rede. “Em uma loja de Pirituba, outro cliente levou R$ 1,1 mil em moedas para comprar uma TV também, em outubro de 2013”, afirma ele.

Já para a vendedora Josefa Peixoto, que atendeu Murilo, o caso foi inédito em 12 anos trabalhando na loja. “Eu nunca tinha visto. Fiquei preocupada porque vi que a venda não entrava no sistema, demorou. Depois as meninas me disseram que precisaram conferir as moedas.”
Outros casos
Murilo não foi o único a adquirir um bem de valor considerável depois de juntar moedas. Em Assis Chateaubriand (PR) um menino de 10 anosconseguiu juntar dinheiro para comprar um Fusca ano 1976, que custou R$ 2,5 mil. “Sempre que meu pai saía da loja, sobravam moedas no bolso e ele me dava, meus primos, primas, todo mundo me ajudou. Minha avó me dava notas de R$ 10 ou R$ 20 e falava ‘compra o que você quiser’, mas eu colocava tudo no banco”, contou Thiago Morales Berce, em agosto de 2014.
Menino está guardando dinheiro para personalizar o fusca e para a faculdade (Foto: Arquivo Pessoal)Menino guardou moedas para comprar um 
Fusca no Paraná (Foto: Arquivo Pessoal)
Em Alagoas, a estudante universitária Rafaela Melo conta que economizou R$ 5 mil em moedas e usou o montante na compra de um carro zero quilômetro. “Desde pequena tive essa mania de juntar dinheiro. Separava valores em cofres de diferentes tipos e tamanhos. Aos 19 anos já tinha R$ 5 mil guardados no banco”, disse ela em dezembro de 2013.

Em Fortaleza, o comerciante Nilo Veloso fez uma economia diferente: resolveu guardar todas as moedas que ele utilizaria para comprar cigarros. Em março de 2012, ele contou que, em seis anos, juntou R$ 30 mil. O dinheiro foi usado para ajudar na compra de um carro, três notebooks, três câmeras, duas bicicletas e viagens para Aracaju e Buenos Aires.
Rafaela coleciona diversos tipos de cofrinhos para guardar suas moedas. (Foto: Jonathan Lins/G1)Rafaela coleciona diversos cofrinhos para suas
moedas, e juntou R$ 5 mil (Foto: Jonathan Lins/G1)
Hábito de guardar dinheiro
Murilo conta que, periodicamente, abria as latas onde guardava as moedas para contar quanto já tinha juntado. Em seguida, atualizava sua planilha de controle com os valores.

“O grande motivo incentivador que me fez economizar moedas por um longo período foi a satisfação pessoal de guardar meu dinheiro. E também ficar contando e separando era uma terapia. Era algo gostoso”, lembra ele, acrescentando que algumas vezes já chegou até a montar “castelinhos” com as moedas. “Eu já cheguei a cédulas também, mas mofaram.”
Sete anos após juntar dinheiro que gastava com cigarro, Nilo comprou carro, notebooks e bicicletas, além de ter emagrecido 22 quilos.  (Foto: TV Verdes Mares/ Reprodução)Nilo parou de fumar e passou anos juntando as
moedas que usaria para comprar cigarros
(Foto: TV Verdes Mares/ Reprodução)
Os potes já começaram a ser enchidos novamente, pois após a compra da TV Murilo voltou a juntar moedas. “Nunca gostei de andar com moeda. Deixava na mochila e quando ficava com muitas, juntava tudo. Estou juntando de novo, o que vem de troco eu deixo guardado. Não tenho o hábito de comprar com moeda, outras formas de pagamento são mais acessíveis.”
Mesmo que o dinheiro não renda como aconteceria em outras aplicações, Murilo ainda considera vantajoso acumular moedas por algum tempo. “Não rende, mas quando você precisa tem o capital”, diz. “É o direito das pessoas de fazerem uma economia da forma como elas quiserem.”

Moedas em circulação
O Banco Central afirma que o “cofrinho” configura “uma das primeiras formas do exercício da poupança”. “O ato de poupar deve ser estimulado desde a infância, para que a criança cresça com a noção de que poupar não é um ato de sacrifício; ao contrário, poupar hoje é uma forma de se programar para consumir mais e melhor amanhã”, diz o BC em nota.

Porém, a recomendação do BC é que “o cidadão não ‘esqueça’ as moedas poupadas e que adquira o hábito de trocá-las por cédulas no comércio, depositando o resultado de sua poupança em um instrumento financeiro seguro que multiplique seu dinheiro, rendendo juros. Assim, ao mesmo tempo em que o ato de poupar viabilizará a realização dos sonhos do poupador no futuro, também permitirá o retorno das moedas à circulação".

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