POLÍTICA - PEQUENOS/GRANDES ERROS

Tentar agradar a todos
Cuidado para não cair nas tentações impostas pelo poder
Conquistar o poder equivale a aumentar a capacidade de impor a sua vontade aos outros. Já vimos como o poder coloca ao alcance de seu titular, uma massa de energia, composta de competência para baixar normas e regras impositivas, além de recursos humanos materiais, e financeiros.
Essa massa de energia, que representa o poder do homem sobre o homem, confere um alcance e uma latitude peculiar à vontade do governante. Ela o torna uma pessoa diferente das outras. Alguns governantes deixam-se embriagar por esta condição e se apropriam do poder como uma propriedade pessoal, esquecendo que na verdade apenas o detêm, como mandatários da população, para o objetivo de realizar ações de interesse coletivo.
Por esta razão a frase de Lord Acton : "O poder tende a corromper, o poder absoluto corrompe absolutamente" tornou-se a máxima mais conhecida da política ao longo da história. Entretanto, mesmo aquele que não se embriaga com o poder, é transformado por ele. Sobretudo nos primeiros meses de mandato, fica difícil identificar onde estão os limites do seu poder.
O contraste entre a situação anterior e a nova é demasiado marcante. Os símbolos do poder, o comportamento das pessoas, a sensação de estar no ápice da hierarquia, são inevitavelmente perturbadoras. É dentro deste contexto psicológico que costuma ocorrer o erro de achar que é possível agradar a todos.
A vontade política - que ainda não encontrou as barreiras que a oposição vai lhe impor, que a mídia vai levantar, e que as limitações financeiras, materiais e humanas da administração vão revelar - parece não conhecer limites.
Acossado pelos compromissos, pelas reivindicações, apelos e solicitações dos que o apoiaram e, pelas oportunidades de cooptação de adversários que se lhe oferece, cresce no governante a vontade de agradar a todos, reduzindo a oposição à condição de insignificância política.
De bem com o mundo, prestigiado pela legitimidade popular, adulado por muitos, bem tratado pela mídia, é dominado por este sentimento positivo que, se não for contido, pode leva-lo a cometer erros graves, dos quais se arrependerá no futuro próximo.
Neste estado de espírito, o governo e seus órgãos, parecem-lhe extremamente elásticos. Sempre é possível criar outro órgão, ou criar novas diretorias, ou uma nova secretaria, funções de assessoramento superior, etc, para acolher as indicações que chegam a ele.
O problema está no fato de que esta "elasticidade" sempre será inferior, quantitativa e qualitativamente, às solicitações. Ao sentimento de que é possível "agradar a todos" corresponde o sentimento de que cada um pode ter o lugar que deseja ou julga merecer.
O sentimento de que é possível "agradar a todos" pode terminar em frustrações e animosidades
Em pouco tempo o governante descobre que sua atitude de abertura e boa vontade é respondida com frustrações, animosidades e intrigas. Os beneficiados ficam insatisfeitos seja por que:
1 - não conseguiram uma posição no governo;
2 - ou porque conseguiram uma posição que "não está a altura" das expectativas despertadas.
Em outras palavras, por razões quantitativas (Não há cargos para todos. Alguns ficarão de fora), ou por razões qualitativas (os cargos oferecidos não correspondem ao que a pessoa julga merecer), a atitude de abrir o governo e "agradar a todos" acaba gerando mais insatisfações e ingratidões do que reconhecimento.
Estas pessoas acabam aceitando (de má vontade) as funções que lhe couberam, mas continuarão, dentro da administração, batalhando para conquistar outras posições que lhes agradem mais. Além dessas incomodações, porém, algo mais grave acontece.
A nova administração tende a possuir mais pessoas do que seria necessário. Criam-se desta forma administrações horizontalizadas, onde as competências, atribuições e responsabilidades específicas, permanecem definidas de maneira muito imprecisa, com vários órgãos competindo entre si na mesma área.
Ora, estes órgãos não possuindo limites de competência claramente definidos e mutuamente excludentes, terão que defini-los pelo conflito interno. Este erro, como todo o erro político, tem sua origem não na intenção, e sim no abismo que separa a intenção da realidade.
O governante deve usar o poder com sabedoria. Consciente de que seu compromisso fundamental é com o eleitor, de que não é possível agradar a todos, e que a montagem de sua administração deve buscar a eficiência para produzir resultados, que serão cobrados pelo eleitor na próxima eleição. Vacine-se contra esta tentação de agradar a todos. Por mais atraente que seja, ela se revela auto-destrutiva.
Francisco Ferraz
POLÍTICA PARA POLÍTICOS

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